Uma briga que começou em 2021 durante reunião entre os delegados titulares de todas delegacias de Campo Grande e Adriano Garcia Geraldo, na época delegado-geral da Polícia Civil, resultou na suspensão da delegada Daniella Kades de Oliveira Garcia da DEAIJ (Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e Juventude). A punição, rara entre as autoridades da PCMS, foi oficializada nesta terça-feira-feira (25)

A decisão foi publicada no Diário Oficial de Mato Grosso do Sul. O documento oficial, assinado pela delegada Rozeman Geise Rodrigues – em substituição ao atual delegado-geral, Roberto Gurgel – determina o afastamento da delegada por 30 dias e deixa Alberto Luiz Carneiro da Cunha de Miranda como delegado titular da unidade especializada.
Para a reportagem, a delegada explicou que a decisão sobre a suspensão foi comunicada há algum tempo. Ela poderia recorrer, mas optou por não fazer isso. Por isso, desde o mês passado, ela aguarda o afastamento da delegacia.
Mas a punição de Kades só veio depois do julgamento pela morte de Matheus Coutinho Xavier – vítima de um plano malsucedido para matar o pai dele. A delegada fazia parte da força-tarefa responsável pelas investigações da Operação Omertà e foi ao plenário para prestar depoimento contra Jamil Name Filho, Marcelo Rios e Vladenilson Daniel Olmedo.
Os três foram condenados.

Não confio
A discussão entre Kades e Adriano foi descoberta depois que áudios da reunião foram vazados. Nessa época ela já era alvo de um processo administrativo por “insubordinação grave em serviço”.
Na gravação é possível ouvir que a briga começa justamente por conta das investigações da Operação Omertà, que em 2019 revelou um esquema de corrupção de agente público liderado pelo empresário Jamil Name e pelo filho dele, Jamil Name Filho, o Jamilzinho.
Muitos outros crimes foram descobertos pela força-tarefa: assassinatos, extorsões e no centro de tudo, o jogo do bicho. É justamente por esse último que a discussão acontece. Na gravação, Adriano exige saber nomes de criminosos que assumiram o negócio de Name após as prisões feitas na operação. É então que Kades nega a dar detalhes do trabalho feito por ela e outros quatro delegados.
“Eu não vou falar o nome das pessoas”, afirma Kades.
“Por quê?”, questiona Adriano.
“Porque eu não confio na polícia”, responde ela.
Na confusão, Adriano chega a ameaçar a colega.
“Se não vai por bem, vai na dor. Aí a gente põe hierarquia, porque é muito triste você dizer que não confia”.
Afastado primeiro
Depois de toda a repercussão do áudio. Adriano acabou afastado do principal cargo da Polícia Civil. O motivo, no entanto, foi bem diferente do de Kades: ele perseguiu e atirou três vezes nos pneus do carro de uma estudante, de 24 anos, em plena Avenida Mato Grosso, uma das principais vias de Campo Grande.
O caso aconteceu em fevereiro do ano passado.
De um lado, o ex-chefe da PCMS afirmava que fez a abordagem depois de ser “fechado” pela jovem. Já na versão da estudante, o delegado buzinou depois que ela afogou o carro e em respota fez um gesto com o dedo do meio. Foi ai que começou a perseguição.
Após a polêmica, o delegado até pediu exoneração do cargo de alto escalão da Polícia Civil sul-mato-grossense. O caso faz mais de um ano e até agora não há conclusão.